Recuperação do vertente de desenho do projeto Rotação Difusa:
Exploração escrita
"Mimar sem mimésis"
Mimar sem mimésis, resume a experiência da escultura cega. No ato de esculpir através de um referente que se apreende pelo tato e não pela visão, a mimésis não é o ímpeto que faz as mãos deslizarem sobre o corpo-objeto. As semelhanças que se pretendem alcançar são de outro nível, a semelhança visual entre o referente e a peça, o modelo e a escultura não é o objetivo, nem o eixo sobre o qual giram as minhas intenções e preocupações. Na verdade, pouco me importa se quando retiro a venda reconheço o meu nariz, a minha boca, o meu rosto no grés modelado, porque os meus dedos irão reconhecê-lo.
Colocar na visão o peso do reconhecimento, do autorreconhecimento assusta-me. Algo que cada vez mais penso é em como para ver é necessária uma certa distância, por pouco que seja, ela tem de existir. Quando aquilo que precisamos ver, que queremos ver, se aproxima demais cega-nos, e esta é a maior prova do quão falaciosa é a visão e de como ela é mais concreta e confiável quando o objeto que procuramos compreender está fora do alcance do nosso corpo.
Assim sendo, como conhecer o eu, o outro e o mundo?
Resta-nos a pele. Esse manto que nos cobre por inteiro e que se deixa tocar, que se permite sentir e que é capaz de ser sensível. Aqui entra o ato de mimar, de amar com a pele.
É assim que, através do mimo, que a verdade se alcança. Entre movimentos delicados ou intensos, amplos ou contidos, doces ou amargurados, no meio da escuridão que se compreende o nosso próprio corpo, mas também a forma como ele se arrepia, a forma como se deixa aquecer sob o movimento das mãos, onde está dolorido e onde se acumula o cansaço, onde termina e onde os seus limites se esbatem no resto, no resto que é a terra e o ar.
Mimar sem mimésis, resume a experiência da escultura cega. No ato de esculpir através de um referente que se apreende pelo tato e não pela visão, a mimésis não é o ímpeto que faz as mãos deslizarem sobre o corpo-objeto. As semelhanças que se pretendem alcançar são de outro nível, a semelhança visual entre o referente e a peça, o modelo e a escultura não é o objetivo, nem o eixo sobre o qual giram as minhas intenções e preocupações. Na verdade, pouco me importa se quando retiro a venda reconheço o meu nariz, a minha boca, o meu rosto no grés modelado, porque os meus dedos irão reconhecê-lo.
Colocar na visão o peso do reconhecimento, do autorreconhecimento assusta-me. Algo que cada vez mais penso é em como para ver é necessária uma certa distância, por pouco que seja, ela tem de existir. Quando aquilo que precisamos ver, que queremos ver, se aproxima demais cega-nos, e esta é a maior prova do quão falaciosa é a visão e de como ela é mais concreta e confiável quando o objeto que procuramos compreender está fora do alcance do nosso corpo.
Assim sendo, como conhecer o eu, o outro e o mundo?
Resta-nos a pele. Esse manto que nos cobre por inteiro e que se deixa tocar, que se permite sentir e que é capaz de ser sensível. Aqui entra o ato de mimar, de amar com a pele.
É assim que, através do mimo, que a verdade se alcança. Entre movimentos delicados ou intensos, amplos ou contidos, doces ou amargurados, no meio da escuridão que se compreende o nosso próprio corpo, mas também a forma como ele se arrepia, a forma como se deixa aquecer sob o movimento das mãos, onde está dolorido e onde se acumula o cansaço, onde termina e onde os seus limites se esbatem no resto, no resto que é a terra e o ar.
O dualismo platónico é uma falasia.
E o corpo eleva-se, iguala-se à alma, ou funde-se nela. O que importa é que ganha profundidade, poesia. O binómio corpo/alma, ligado respetivamente ao humano e divino, ao tangível e material, em oposição ao imaterial e transcendente, é esta a premissa que acaba por recolocar o corpo como eixo do pensar e do sentir. Ao centralizar-se, o corpo precisa de se reencontrar, de perceber, pelos seus próprios meios, a sua nova natureza, ou se calhar o reconhecimento da sua verdadeira identidade. Assim, em rotação difusa, uma rotação demorada e híper consciente, o corpo vai-se tornando auto consciente pelo tato. Anula-se a visão, na tentativa de um conhecimento, pelo toque. O mapeamento e reconhecimento da forma, dos volumes, das texturas, pelas próprias mãos. Obtendo-se assim o conhecimento escultórico pelas mãos do próprio modelo, da ‘musa’, fundindo-se num só, escultor e modelo.
E o corpo eleva-se, iguala-se à alma, ou funde-se nela. O que importa é que ganha profundidade, poesia. O binómio corpo/alma, ligado respetivamente ao humano e divino, ao tangível e material, em oposição ao imaterial e transcendente, é esta a premissa que acaba por recolocar o corpo como eixo do pensar e do sentir. Ao centralizar-se, o corpo precisa de se reencontrar, de perceber, pelos seus próprios meios, a sua nova natureza, ou se calhar o reconhecimento da sua verdadeira identidade. Assim, em rotação difusa, uma rotação demorada e híper consciente, o corpo vai-se tornando auto consciente pelo tato. Anula-se a visão, na tentativa de um conhecimento, pelo toque. O mapeamento e reconhecimento da forma, dos volumes, das texturas, pelas próprias mãos. Obtendo-se assim o conhecimento escultórico pelas mãos do próprio modelo, da ‘musa’, fundindo-se num só, escultor e modelo.
Poesia
Poesia
Poesia
É tudo o que eu quero.
A poesia nasce da beleza. Da beleza do sublime, do belo, não do bonito.
Kant sabia-o. Era Kant, não era? Acho que sim.
Na verdade, acho que ele distinguia o sublime do belo, mas vamos fazer a divisão mais ‘abaixo’, porque o belo ainda consegue alterar respirações e rarear o ar nos pulmões.
E o belo, o sublime pode vir da fealdade, do caos, do precário, do podre, da dor. Um sublime que nos esmaga com a nossa fragilidade e pequenez.
Poesia
Poesia
É tudo o que eu quero.
A poesia nasce da beleza. Da beleza do sublime, do belo, não do bonito.
Kant sabia-o. Era Kant, não era? Acho que sim.
Na verdade, acho que ele distinguia o sublime do belo, mas vamos fazer a divisão mais ‘abaixo’, porque o belo ainda consegue alterar respirações e rarear o ar nos pulmões.
E o belo, o sublime pode vir da fealdade, do caos, do precário, do podre, da dor. Um sublime que nos esmaga com a nossa fragilidade e pequenez.
corpo, corpo e mais corpo