In Search of the Miraculous
Bas Jan Ader
1975
Embora tenha terminado com o desaparecimento, a provável morte do artista e uma especulável vontade suicída. Não me deixa de fascinar esta entrega do corpo e até da própria vida à praxis, que aqui, no exemplo mais extremo, fundem-se claramente uma com a outra.
In Search of the Miraculous
Bas Jan Ader
1975
Embora tenha terminado com o desaparecimento, a provável morte do artista e uma especulável vontade suicída. Não me deixa de fascinar esta entrega do corpo e até da própria vida à praxis, que aqui, no exemplo mais extremo, fundem-se claramente uma com a outra.
Bas Jan Ader faz a abertura das referências, considero este trabalho como a referência mãe do projeto que desenvolvo. Aqui exprimem-se fortes ideias de ação, de aventura, de total devoção, onde o mais valioso - da forma mais radical e marginal à moral da prática artística - é a ação. Há um valor real incontornável neste trabalho, a sensação sufocante e visceral só existe porque é real.
Contudo há uma diferença chave que distingue o projeto que desenvolvo com o de Bas Jan Ader, que é a ação deliberada. Ambos habitam a prática da ação, o trabalho de campo e ambos tem um vínculo muito forte com a devoção do corpo à ação, sendo este momento visceral em que corpo e mente se reúnem na mesma "casa" que são as ações, o momento fulcral do trabalho. Mas enquanto que um é um ato deliberada muito perto da mutilação deliberada - contextualizando In Search of the Miraculous com a restante prática artística de Bas Jan Ader, o outro, a ação que proponho, não procura o risco extremo nem gira em torno deste, não há a procura ativa do perigo. Existe risco e existe esforço físico mas são tudo parcelas da prática que motiva o projeto, a ação aventurosa. In Search of the Miraculous está além do perigoso, está além do possível risco físico. Aqui o perigo não é uma possibilidade é praticamente uma inevitabilidade.
Bas Jan Ader é uma referencia não pela perigosidade "gratuita" mas, uma vez mais, pela relação direta com corpo e do artista com a obra. Pelo valor muito real da obra.
Contudo há uma diferença chave que distingue o projeto que desenvolvo com o de Bas Jan Ader, que é a ação deliberada. Ambos habitam a prática da ação, o trabalho de campo e ambos tem um vínculo muito forte com a devoção do corpo à ação, sendo este momento visceral em que corpo e mente se reúnem na mesma "casa" que são as ações, o momento fulcral do trabalho. Mas enquanto que um é um ato deliberada muito perto da mutilação deliberada - contextualizando In Search of the Miraculous com a restante prática artística de Bas Jan Ader, o outro, a ação que proponho, não procura o risco extremo nem gira em torno deste, não há a procura ativa do perigo. Existe risco e existe esforço físico mas são tudo parcelas da prática que motiva o projeto, a ação aventurosa. In Search of the Miraculous está além do perigoso, está além do possível risco físico. Aqui o perigo não é uma possibilidade é praticamente uma inevitabilidade.
Bas Jan Ader é uma referencia não pela perigosidade "gratuita" mas, uma vez mais, pela relação direta com corpo e do artista com a obra. Pelo valor muito real da obra.
* O LONGE E A MIRAGEM *
[...]
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?…
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos…
Ide! tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
[...]
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?…
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos…
Ide! tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
[...]
excerto de "Cântico Negro" José Régio
Aventura
a·ven·tu·ra
substantivo feminino
1. Feito extraordinário.
2. Caso inesperado que sobrevém e que merece ser relatado.
A própria praxis no contexto expositivo não são mais do que feitos extraordinários que merecem ser relatados.
Dick Fosbury, Prova de Salto em Altura, Jogos Olímpicos, Mexico de 1968
Este muito importante momento na história - a primeira vez que um atleta de salto em altura saltou de costas, revolucinando para sempre a prova - representa prefeitamente a latitude do alargado entendimento de aventura no contexto deste projeto.
Ele próprio chega a ser uma referência fulcral neste projeto, chega até a ser uma aventura de referência.
Não posso constituir referencia aventurosa apenas a partir de conteúdos do campo da prática artística. Há nestes homens e na sua prática não artística, um valor do real que rivaliza a grandiosidade de muitas das mais abismais e magnificas produções artísticas. É essa crueza do real - também ela presente em Bas Jan Ader, embora aqui um passo ainda mais profundo por habitar uma simplicidade que muitas vezes é perdida à luz da prática artística, não há vontade de exposição há apenas a vontade de alcance do cume, não pelo cume mas pelo que o seu alcance exige. É o valor mais honesto, só fazer porque se ama a prática que faz destas ações feito. Assim como a arte que nada mais é que - Feitos (no sentido mais lato da palavra) que merecem ser relatados - ao não ser arte tem o potencial de ser a obra artística mais pura. A verdadeira ação que merece ser relatada pelo grande feito que representa.
* Modos de Expor *
Arthur Jafa - Wolfgang Tillmans - Wim Wenders
+
BASE (HUB)
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BASE (HUB)
A partilha/modos expositivo foi desde o seu início, uma das grandes parábolas deste projeto. Houve desde então um entendimento da falência da exposição/registo da ação, no sentido em que qualquer manifestação expositiva nunca faria jus à complexidade física, emocional e conceptual da ação. Portanto em vez de se investir esforço na sua viabilização, entendi que era esta precariedade que iria atribuir à ação o seu estatuto quase etéreo e que o modelo exposição, que seria o mediador entre a experiência da ação e a experiência da exposição - o "no man's land" partilhado pela minha produção e pela experiência expectatorial - deveria manifestar-se num regime de fábula. No qual a solução estava na mediação de quantidade de informação e no seu médium, a procura do essencial para o relato da "estória".
O registo da ação é uma constante transversal a todas as manifestações deste trabalho, e sempre vista como interdisciplinar.
Os registos das ações sempre foram vistos comos interdisciplinares e mutáveis, sendo que há uma natural forte tendência para certos modos de registo, tendo sido muitos deles incontornáveis no que foram as grandes expedições no passado, das quais duas delas são o registo da imagem e o registo da imagem em movimento, que à luz da particularidade desta edição do projeto - "A.IV" - a fotografia e o vídeo tiveram essa particular relevância.
Arthur Jafa e Wolfgang Tillmans
Pensando na fotografia em contexto expositivo, interessa-me particularmente o trabalho de Arthur Jafa e Wolfgang Tillmans. A sua importância neste contexto deriva mais de um modos de expor do que propriamente do conteudo dos seus trabalhos.
Arthur Jafa
Interessa-me Arthur Jafa por um lado pela muito profunda relação com a fotografia e o seu modo de expor, naturalmente influenciada por uma predisposição específica devido ao seu background na direção de fotografia mas também, e acima de tudo, um modus quer de prática quer expositivo, interdisciplinar. Um modus multi meios, onde toda e qualquer produção por mais diferente que seja, operam em conjunto para alagar a latitude da compreensão/discussão dos seu temas, que com uma forte dialética visual e grande denominador comum - temas raciais afro americano - em conjunto constroem a sua muito notória e particular identidade visual.
Wolfgang Tillmans
Wolfgang Tillmans tem a sua importância como referência não tanto pelo "conteúdo" mas pela "forma".
Há em Tillmans uma muito clara exclusividade na produção, a fotografia, retira-se portanto uma prática muito articulada e sensível às idiossincrasias deste meio. Apesar do meio ser sempre o mesmo dado a sua sensibilidade expositiva, cada "objeto" fotográfico ganha identidade particular, de certa forma saindo deste vínculo do meio. Vemos sempre fotografia mas não vemos sempre os mesmos "objetos". É portanto uma referencia para as possibilidades.
Há em Tillmans uma muito clara exclusividade na produção, a fotografia, retira-se portanto uma prática muito articulada e sensível às idiossincrasias deste meio. Apesar do meio ser sempre o mesmo dado a sua sensibilidade expositiva, cada "objeto" fotográfico ganha identidade particular, de certa forma saindo deste vínculo do meio. Vemos sempre fotografia mas não vemos sempre os mesmos "objetos". É portanto uma referencia para as possibilidades.
Wim Wenders
Para este projeto entressa-me em particular o filme documental de Wim Wenders sobre Sebastião Salgado.
"The Salt of the Earth" - Wim Wenders - 2014
Esta referencia contribui para o desenvolvimento deste projeto no contexto muito específico da produção de um vídeo como integrante do projeto. Há neste filme, de Wim Wenders uma relação de camadas muito curiosa dada a sua complexidade, destes dois meios fotografia e cinema (imagem em movimento).
Trata-se de um filme documentário sobre um fotografo com as suas imagens estáticas e com a sua projeção por cima - tempo, movimento e imagem. Esta entre a cinematografia e a fotografia.
"The Salt of the Earth" - Wim Wenders - 2014
Esta referencia contribui para o desenvolvimento deste projeto no contexto muito específico da produção de um vídeo como integrante do projeto. Há neste filme, de Wim Wenders uma relação de camadas muito curiosa dada a sua complexidade, destes dois meios fotografia e cinema (imagem em movimento).
Trata-se de um filme documentário sobre um fotografo com as suas imagens estáticas e com a sua projeção por cima - tempo, movimento e imagem. Esta entre a cinematografia e a fotografia.
BASE (HUB)
CHECKPOINT - ESPAÇO DENTRO DE ESPAÇO - FIRELINK SHRINE - MAJULA
BASE (HUB)
S.A.A.
- local onde se reúnem as reminiscências das ações
- local onde se preparam próximas ações
- local onde de descanço
Na sua génese, este projeto contemplava a construção de uma BASE (HUB). Um espaço/objeto híbrido, entre solução expositiva e arquivo itinerante. Faz parte da dialética ongoing do trabalho.
Para a sua construção/projeção procurei soluções do campo do design no contexto do abrigo e da solução expositiva.