Álvaro Jesus 2020/2021
Documentos
Intenção de projeto
O projeto foca-se no termo Consciência, mais especificamente na consciência como sendo um produto colateral do corpo e seus processos (bio)mecânicos e químicos, assim como nas várias dimensões/conotações para que a palavra Consciência remete: moralidade; mente/”eu”; ter noção/estar ciente/”awareness”; entre outros.
Não é pretendido compilar e organizar uma argumentação que procure persuadir a uma dada posição ou a uma aceitação da premissa em que se foca o tema, assumindo claro, que é inescapável alguma parcialidade. Pretende-se apenas criar um momento de partilha da materialização duma exploração e questionamento pessoais.
Esta materialização procura manter-se diversa e flexível nas formas que possa tomar, quer nos processos, técnicas ou materiais. Apesar disso a matéria conceptual mais frequentemente se manifestará pela criação de corpos escultóricos que quase sempre aludem fortemente ao corpo humano e que num segundo momento se integram em cenografias que procuram receber “o outro”(visitante/público) no interior de dada atmosfera/cena. Manifesta-se também na forma de performances que procuram explorar uma faceta mais ritualista, estas podem surgir tanto como atos realmente concretizados, ou exclusivamente como guias e guiões de carater algo fantasioso. De forma semelhante as cenografias poderão focar-se quase exclusivamente na sua maquetização e exploração de versões.
Focando agora nos trabalhos/partes mais concretas do projeto que se pretende trabalhar durante este ano letivo, a dinâmica de trabalho será: num primeiro plano focar na execução de duas peças, ou grupos de peças, de forma intercalada(correspondentes ás imagens anexadas); e num segundo plano focar no desenvolvimento/compilação de guiões performativos e de maquetizações de cenografias que podem estar associadas ás performances ou, mais frequentemente, serem independentes.
Não é pretendido compilar e organizar uma argumentação que procure persuadir a uma dada posição ou a uma aceitação da premissa em que se foca o tema, assumindo claro, que é inescapável alguma parcialidade. Pretende-se apenas criar um momento de partilha da materialização duma exploração e questionamento pessoais.
Esta materialização procura manter-se diversa e flexível nas formas que possa tomar, quer nos processos, técnicas ou materiais. Apesar disso a matéria conceptual mais frequentemente se manifestará pela criação de corpos escultóricos que quase sempre aludem fortemente ao corpo humano e que num segundo momento se integram em cenografias que procuram receber “o outro”(visitante/público) no interior de dada atmosfera/cena. Manifesta-se também na forma de performances que procuram explorar uma faceta mais ritualista, estas podem surgir tanto como atos realmente concretizados, ou exclusivamente como guias e guiões de carater algo fantasioso. De forma semelhante as cenografias poderão focar-se quase exclusivamente na sua maquetização e exploração de versões.
Focando agora nos trabalhos/partes mais concretas do projeto que se pretende trabalhar durante este ano letivo, a dinâmica de trabalho será: num primeiro plano focar na execução de duas peças, ou grupos de peças, de forma intercalada(correspondentes ás imagens anexadas); e num segundo plano focar no desenvolvimento/compilação de guiões performativos e de maquetizações de cenografias que podem estar associadas ás performances ou, mais frequentemente, serem independentes.
Máscaras:
Máscaras:
Performances/guiões:
Cenografias:
Mapa conceptual- pré intenção de projeto
Pré-Projeto
Descontinuidade e continuidade, ilusões, retornos e condicionantes.
O que me rodeia como parte inerente e inseparável do eu e vice versa;
O eu e a consciência como produto colateral do corpo e do mundo;
O eu e a consciência como produto colateral do corpo e do mundo;
Sinopse geral:
Vemo-nos como descontínuos, á parte do que nos rodeia e únicos. Valorizamos a nossa individualidade, fantasiamos com o eterno e a imortalidade, temendo retornar, ou relembrar, a nossa condição de contínuos com o mundo.
- "Vim ao mundo." -Dizemos, falando do nasceimento, como se em algum ponto da nossa existência não lhe tivessemos pertencido.
- "Produto do mundo, dele emergi, para ele voltarei. Se bem que nunca dele saí ou separei." - Diriamos tendo em conta que somos afetados pelas nossas experiências , mesmo dentro do útero materno, assim como pela nossa herança genética; que cada átomo do nosso corpo já pertenceu a inúmeros outros: ao material orgânico que ingerimos e aos corpos estelares primordiais; que contamos menos átomos do que espaço entre estes, mais vibração do que matéria.
Procura-se aqui lembrar a fragilidade, a efemeridade, as ilusões de liberdade e de livre vontade, a impossibilidade de conhecer o que foi e o que será, assim como as restantes condicionantes da existência. Tal, através de corpos que enfatizam a sua própria degradação e destruição; de espaços, artefactos e talismãs que recusam mostrar a sua história e sentido, se é que o têm, e que remetam para os padrões, ritmos e ciclos que nos constituem, influenciam e transcendem.
Vemo-nos como descontínuos, á parte do que nos rodeia e únicos. Valorizamos a nossa individualidade, fantasiamos com o eterno e a imortalidade, temendo retornar, ou relembrar, a nossa condição de contínuos com o mundo.
- "Vim ao mundo." -Dizemos, falando do nasceimento, como se em algum ponto da nossa existência não lhe tivessemos pertencido.
- "Produto do mundo, dele emergi, para ele voltarei. Se bem que nunca dele saí ou separei." - Diriamos tendo em conta que somos afetados pelas nossas experiências , mesmo dentro do útero materno, assim como pela nossa herança genética; que cada átomo do nosso corpo já pertenceu a inúmeros outros: ao material orgânico que ingerimos e aos corpos estelares primordiais; que contamos menos átomos do que espaço entre estes, mais vibração do que matéria.
Procura-se aqui lembrar a fragilidade, a efemeridade, as ilusões de liberdade e de livre vontade, a impossibilidade de conhecer o que foi e o que será, assim como as restantes condicionantes da existência. Tal, através de corpos que enfatizam a sua própria degradação e destruição; de espaços, artefactos e talismãs que recusam mostrar a sua história e sentido, se é que o têm, e que remetam para os padrões, ritmos e ciclos que nos constituem, influenciam e transcendem.
Desenvolvimento:
Os conceitos de ser contínuo e ser descontínuo aqui usados surgem principalmente de George Bataille, mais especificamente da obra Erotism: Death & Sensuality. Parafraseando de forma simplista e possivelmente interpretativa, o autor refere-se ao indivíduo como um ser descontínuo, vivendo numa experiência interior sem acesso á experiência interior e individual do outro; à morte como um retorno à continuidade, momento em que a experiência individual se funde com a do mundo; e ao erotismo, sensualidade e sexualidade como um desfocar dos limites entre descontinuidade e continuidade, uma aproximação à morte.
Ao apontar a descontinuidade como uma ilusão, não se procura contrariar a noção de George Bataille, procura-se uma expansão de contexto, conectando principalmente aos conceitos de causalidade, perda do ego e qualia.
O indivíduo é entendido como descontínuo ao viver numa representação pessoal dos estímulos obtidos do mundo, mas se o indivíduo cria e vive na sua própria realidade então o indivíduo (o filtro) e o seu mundo interior são contínuos. Da mesma forma que o filtro individual define e é contínuo com a sua representação do mundo, o mundo (pré-representação) define e é contínuo com o filtro do indivíduo: genética; epigenética; experiências/vivências: substâncias, microrganismos, níveis de químicos e hormonas no corpo; infrassons e outras frequências; etc. O mundo produz filtro, que por sua vez produz o mundo.
É à volta desta continuidade, destas constantes influências pelos padrões e ritmos que nos rodeiam e constituem, que o projeto e as suas várias partes revolvem. Existe inerentemente uma alusão à morte, efemeridade e outras condições da existência humana, sejam elas biológicas, psicológicas ou sociais, remetendo-se também para a filosofia.
Apesar disto, procura-se manter a ambiguidade das obras, não se pretende que haja uma leitura priveligiada da obra ou de uma mensagem inerente nela. Mesmo ao se procurar dada associação ou referência, ao se lembrar ou remeter para dada condição existencial, esta quer-se manter, em parte, dissimulada e ambígua: se as obras levantam dada questão, não lhe oferecem resposta.
Nos corpos e composições criadas no âmbito do projeto, procura-se também manter uma multiplicidade de meios, processos e materiais, por exemplo: raramente se privilegia um material específico, privilegiam-se apenas as suas características e se estas existem noutro, ambos são igualmente passiveis de utilizar.
Da mesma forma, procura-se diversidade nos espaços em que cada obra se insere: interiores e exteriores, naturais e artificiais, físicos, mentais (o espaço do pensamento) e virtuais. Existe, no entanto, uma preferência pelos últimos: procura-se sempre que possível integrar versões virtuais das obras, senão mesmo a criação exclusiva destas. Tal, acontece devido a preocupações com o alargamento da audiência, o ultrapassar de limitações inerente na presença e fisicalidade, assim como explorar as possibilidades do espaço cibernético.
Importa referir que, através de sinopses especificas a cada obra e/ou secção do projeto, procura-se explicitar em quais dimensões do projeto as obras se especificam e aprofundam, simultaneamente explicitando que aspetos mais tangentes, ou exteriores, procuram integrar.
Referências
CORPO e cadáver
Existe uma ênfase na temporalidade da matéria e do ser humano, refletindo-se tal no uso frequente de materiais altamente degradáveis e orgânicos (fibras, massas/amidos, bioplásticos, madeira, cera, etc.). Apesar disto, não se nega o uso de outros materiais de caráter menos temporário. Também estes, inevitavelmente, se degradam e a justaposição desse seu caráter mais permanente com o incitar/acelerar da sua destruição torna-se interessante, tanto nesta secção como no projeto em geral.
As peças integram a representação, referência e apropriação da figura e corpo humano, frequentemente, mas não exclusivamente, de forma algo naturalista e mimética.
As peças integram a representação, referência e apropriação da figura e corpo humano, frequentemente, mas não exclusivamente, de forma algo naturalista e mimética.
Pretende-se a criação de múltiplos corpos que se instalam, de forma individual e coletiva, numa diversidade de espaços, permitindo e enfatizando a sua toma pela flora, fungos e animais. Procura-se destacar processos e ciclos naturais de decomposição, aludindo também à condição entrópica de toda a matéria e ao seu constante ciclo de reencarnação.
Questionam-se as tradições de enterro, assim como posturas ideologicas, onde exista uma inerente negação da continuidade do ser humano, especialmente o uso de caixões e os cemitérios. Aponta-se a dimensão do cadáver como carne, fertilizante do solo, e alimento daquilo que o alimentou. Podendo também remeter para a condição de sem abrigo e sem nome ao subitamente se inserir um “cadáver” nos espaços.
supvita
(Em Progresso)
Raízes:
Raízes:
Pré-visualizações:
Materialização:
Sinopse
Contemplando a sua inserção e conexão do humano nas várias escalas do universo, o corpo intitulado “supvita” deixa transparecer uma vontade algo agressiva de transmitir informação.
Ao remeter para a criança que ao descobrir algo pela primeira vez anseia por dar a conhecer a sua descoberta, revela também uma pretensão narcísica de se fazer profeta: apela ao movimento e constante mudança de perspetiva; realça a vulnerabilidade e a aparente insignificância da existência humana na grande escala do universo; questiona a individualidade e originalidade do ser humano ao dissecar os seus constituintes; apontando também a raridade de atividades exclusivamente humanas.
Para além de um certo carácter niilista, existe também uma forte noção da contemplação da morte como algo doador de sentido e valor à vida. Contrapondo-se ainda, uma vontade hipócrita de transcender a morte e a temporalidade, a qual se apresenta na forte associação aos mecanismos que suportam e estendem a vida para além do dito natural.
Contemplando a sua inserção e conexão do humano nas várias escalas do universo, o corpo intitulado “supvita” deixa transparecer uma vontade algo agressiva de transmitir informação.
Ao remeter para a criança que ao descobrir algo pela primeira vez anseia por dar a conhecer a sua descoberta, revela também uma pretensão narcísica de se fazer profeta: apela ao movimento e constante mudança de perspetiva; realça a vulnerabilidade e a aparente insignificância da existência humana na grande escala do universo; questiona a individualidade e originalidade do ser humano ao dissecar os seus constituintes; apontando também a raridade de atividades exclusivamente humanas.
Para além de um certo carácter niilista, existe também uma forte noção da contemplação da morte como algo doador de sentido e valor à vida. Contrapondo-se ainda, uma vontade hipócrita de transcender a morte e a temporalidade, a qual se apresenta na forte associação aos mecanismos que suportam e estendem a vida para além do dito natural.
Negafi
(em progresso)
“O mal não ouvir, não ver, não dizer.”
Este provérbio está na origem da composição intitulada “negafi”, existindo nela uma exploração da ambiguidade do sentido deste: evitar o mal exterior a mim; evitar o mal interior a mim; ignorar o mal exterior a mim; ignorar o mal interior a mim; não julgar algo como mau; etc.
O interesse do provérbio reside em possibilitar interpretações contraditórias: é criada uma tensão e sobreposição entre aceitar e negar. Esta tensão é enfatizada, de forma mais explicita, através dos dois grandes bustos que incorporam, respetivamente, o provérbio referido acima e o seu antagonista “O mal ouvir, ver, dizer.”. Existe uma forte conexão ao conceito de sombra, á sua projeção e integração, proveniente da psicologia junguiana. Procura-se contrapor o reconhecimento e aceitação das tendências destrutivas e autodestrutivas, inerentes no ser humano, com a sua negação.
Procura-se criar, no visitante, tensão e ansiedade pela dificuldade em aferir se lhe é, ou não, permitida a destruição dos corpos constituintes da instalação, levantando-se assim questões quanto ao conceito de responsabilidade. A tensão também passível de ser dada pela vertente voyeurista ou de autoidentificação com os corpos presentes.